Um novo levantamento do instituto Barna Group revelou uma transformação significativa na espiritualidade das novas gerações. De acordo com a pesquisa, cerca de 38% das mulheres da Geração Z
Faixa etária entre 18 e 24 anos — se identificam como ateias, agnósticas ou sem religião. O número, considerado o mais alto já registrado entre o público feminino jovem, representa uma inversão histórica: pela primeira vez, as mulheres demonstram índices menores de religiosidade do que os homens da mesma geração.

O estudo, realizado com dois mil participantes nos Estados Unidos, indica que apenas 58% das jovens disseram ter orado na última semana, 31% afirmaram ter lido a Bíblia e 30% participaram de algum culto ou celebração religiosa nos últimos sete dias. Já entre os homens da Geração Z, 43% relataram frequentar regularmente uma igreja ou encontro de fé, superando as mulheres em diversos indicadores espirituais.
Essa mudança de comportamento chama a atenção de pesquisadores, pois durante décadas as mulheres foram o principal grupo de envolvimento religioso e comunitário, tanto em frequência aos cultos quanto na transmissão de valores espirituais dentro das famílias. A nova geração, porém, parece estar rompendo com esse padrão. Os dados da Barna mostram que as jovens adultas enfrentam um distanciamento emocional mais acentuado em relação à família e à comunidade, o que pode estar diretamente relacionado à queda na prática da fé.
Entre as entrevistadas, apenas 23% disseram sentir apoio do pai e 36% afirmaram receber suporte da mãe, enquanto entre as adolescentes de 13 a 17 anos esses números são bem mais altos — 47% e 74%, respectivamente. Além disso, 40% das mulheres de 18 a 24 anos afirmaram que as pessoas mais velhas não compreendem as pressões e desafios que a sua geração enfrenta. Essa sensação de falta de compreensão e acolhimento tende a gerar um vazio relacional e espiritual, especialmente num contexto de incertezas e sobrecarga emocional.
Segundo Daniel Copeland, vice-presidente de pesquisa do Barna Group, a fé é uma habilidade que se aprende, e relacionamentos saudáveis são o elo essencial entre a dúvida e a crença. Para ele, a ausência de vínculos sólidos tem feito com que muitas jovens cresçam sem exemplos consistentes de espiritualidade autêntica. Copeland destaca que não se trata apenas de rejeição religiosa, mas de um sintoma mais profundo de isolamento e desconfiança em relação às instituições.
O relatório aponta ainda o impacto do ambiente digital na formação da fé. A exposição constante às redes sociais tem alimentado sentimentos de comparação, ansiedade e solidão, ao mesmo tempo em que substitui os espaços tradicionais de diálogo espiritual. Cada vez mais jovens afirmam buscar propósito e conexão interior fora das estruturas religiosas, adotando práticas pessoais como meditação, leitura inspiracional e reflexão individual. Essa tendência reflete o crescimento de uma espiritualidade mais fluida e individualista, que prioriza a experiência pessoal acima da pertença institucional.

Embora 73% dos jovens da Geração Z ainda afirmem acreditar em Deus ou em algum tipo de poder superior, o conceito de fé vem sendo reinterpretado. Para muitos, crer já não está necessariamente ligado a seguir uma religião organizada. Essa mudança cultural representa um desafio crescente para igrejas e comunidades cristãs, que precisam se adaptar a um público cada vez mais cético em relação a tradições e autoridades religiosas, mas ainda sedento por significado, acolhimento e verdade.
Especialistas alertam que essa perda de engajamento entre as mulheres pode impactar diretamente a transmissão de valores espirituais nas próximas décadas. Historicamente, foram as mulheres que mantiveram viva a prática da oração, da leitura bíblica e do ensino religioso no lar. Com o distanciamento da fé entre as mais jovens, há um risco real de erosão gradual desses pilares.
A pesquisa da Barna, conduzida durante o verão de 2023, não se limita a medir números. Ela oferece um retrato de uma geração que vive intensamente conectada, mas se sente cada vez mais sozinha. Entre pressões emocionais, crises de identidade e falta de referências espirituais, a Geração Z feminina se encontra em busca de pertencimento e propósito. A fé, que antes era passada de mãe para filha, agora precisa ser redescoberta em novos formatos, capazes de dialogar com os dilemas e as linguagens dessa geração digital.
A conclusão dos pesquisadores é clara: a fé continua presente, mas assume novas formas. O desafio das igrejas e dos líderes espirituais não está em restaurar antigas tradições, e sim em criar pontes genuínas de relacionamento e sentido. Para uma geração que valoriza autenticidade acima de instituições, o testemunho de fé pessoal pode ser mais convincente do que qualquer estrutura. A questão não é apenas por que tantas mulheres jovens estão se afastando da religião, mas o que a sociedade e a comunidade de fé têm deixado de oferecer para que elas queiram permanecer.
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