A crise humanitária e de segurança em Cabo Delgado, Moçambique, é uma das mais graves e persistentes do continente africano, marcada por ataques terroristas, perseguição religiosa e deslocamento em massa de civis. O conflito, iniciado em 2017, envolve grupos extremistas ligados ao Estado Islâmico, como o Ahlu-Sunnah wal Jama`a (ASWJ), e já provocou milhares de mortes e mais de um milhão de deslocados[1][2][3].

Histórico dos ataques e evolução do conflito
O primeiro ataque significativo ocorreu em 5 de outubro de 2017, quando cerca de 30 homens armados invadiram Mocímboa da Praia, marcando o início de uma escalada de violência que se intensificou nos anos seguintes[3]. Desde então, os grupos extremistas têm realizado ataques regulares a aldeias, postos policiais e comunidades cristãs, utilizando táticas brutais como decapitações, incêndio de casas e igrejas, sequestros e violência sexual[2][3].
Em novembro de 2020, um ataque à aldeia de Nanjaba resultou em disparos contra habitantes, incêndio de habitações, decapitação de duas pessoas e estupro de várias mulheres. No mesmo período, o grupo atacou Muatide, reunindo fugitivos em um campo de futebol e decapitando mais de 50 pessoas[2]. Em março de 2021, o grupo Ansar al-Sunna reorganizou-se e atacou Palma, decapitando civis e atacando uma coluna de refugiados, o que levou à evacuação de trabalhadores estrangeiros e à suspensão de operações empresariais na região[2].
Ataques recentes e impacto sobre a população
Em outubro de 2025, elementos associados ao Estado Islâmico reivindicaram novos ataques nos distritos de Chiúre e Muidumbe, resultando na decapitação de pelo menos cinco pessoas, incluindo cristãos moçambicanos[1]. Na semana anterior, o mesmo grupo já havia reivindicado a morte de 18 paramilitares naparamas e a destruição de dezenas de casas e motorizadas em Walicha, Chiúre[1]. Os naparamas são milícias tradicionais que apoiam as Forças de Defesa e Segurança (FDS) no combate aos extremistas.
O ministro da Defesa Nacional de Moçambique, Cristóvão Chume, reconheceu a gravidade da situação e afirmou que as forças de defesa estão no terreno combatendo os terroristas, mas admitiu que nem sempre é possível evitar novos ataques, especialmente em zonas distantes do centro de gravidade das operações militares[1]. Os últimos ataques causaram cerca de 12 mil deslocados, com autoridades e organizações da sociedade civil prestando apoio às vítimas para minimizar o sofrimento da população[1].
Dados sobre mortes, deslocamentos e destruição
Segundo a Fundação ACN e o projeto ACLED, desde outubro de 2017, os insurgentes islâmicos realizaram cerca de 139 ataques, matando mais de 350 civis e militares[2]. Estima-se que mais de um milhão de pessoas estejam deslocadas em Cabo Delgado devido à violência, com milhares de casas e dezenas de igrejas destruídas[1][2][3]. Entre maio e julho de 2018, mais de 400 casas foram incendiadas e milhares de pessoas desalojadas[2]. Em ataques recentes, dezenas de igrejas católicas foram destruídas, forçando milhares de cristãos a buscar abrigo em outras regiões[3].
Perseguição religiosa e impacto nas comunidades cristãs
A perseguição religiosa é uma característica marcante dos ataques em Cabo Delgado. Comunidades cristãs têm sido alvo de decapitações, incêndio de igrejas e casas, além de sequestros e assassinatos. Testemunhos de sobreviventes relatam que os terroristas “queimam tudo, igrejas, casas e matam pessoas”[3]. Apesar da brutalidade dos ataques, líderes religiosos locais, como o bispo de Pemba, Dom Luiz Fernando Lisboa, destacam que a solidariedade e a fé têm sido fundamentais para a resistência das comunidades[2].
Resposta nacional e internacional
A resposta do governo moçambicano inclui operações militares e o apoio de parceiros internacionais, como a União Europeia e tropas de Ruanda, que atuam em conjunto com as Forças Armadas de Moçambique para tentar conter o avanço dos militantes[2][3]. Organizações humanitárias, como a Caritas, têm prestado assistência aos deslocados, fornecendo suprimentos e apoio psicológico[2][3].
Conclusão
A insurreição islâmica em Moçambique representa um dos maiores desafios humanitários e de segurança da África Austral. O conflito em Cabo Delgado já provocou milhares de mortes, destruição de comunidades inteiras e deslocamento de mais de um milhão de pessoas. A perseguição religiosa, especialmente contra cristãos, é uma realidade documentada por fontes confiáveis, embora os números divulgados em algumas mídias sejam frequentemente exagerados ou não confirmados por veículos internacionais. A crise exige atenção global, apoio humanitário e esforços coordenados para restaurar a paz e a dignidade das populações afetadas.
Fontes confiáveis:
RTP
Wikipédia – Insurreição islâmica em Moçambique
Fundação AIS – Memórias de 7 anos de terror em Cabo Delgado
Citations
[1] https://www.rtp.pt/noticias/mundo/mocambique-terroristas-reivindicam-mais-dois-ataques-e-cinco-mortos-em-cabo-delgado_n1674021
[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Insurrei%C3%A7%C3%A3o_isl%C3%A2mica_em_Mo%C3%A7ambique
[3] https://fundacao-ais.pt/memorias-de-7-anos-de-terror-em-cabo-delgado/
[4] https://seer.ufrgs.br/index.php/rbea/article/download/141971/95285/655211
[5] https://observador.pt/2025/08/11/tres-mortos-em-ataque-terrorista-a-aldeia-em-cabo-delgado/
[6] https://revista.mpm.mp.br/rmpm/article/download/456/446/1132
[7] https://integritymagazine.co.mz/arquivos/49956
[8] https://www.ihu.unisinos.br/655815-ha-uma-nova-onda-de-sequestros-de-criancas-em-cabo-delgado